CORPPOGRAFIA DA DOR: O CORPO COMO RE(EX)ISTÊNCIA E INS(ES)CRITURAÇÃO DO FEMININO
Resumo
O presente artigo é um recorte de uma pesquisa de doutorado[1] acerca da grafia da dor, pela via do corpo, enquanto ins(es)crituração de si no processo de vir-a-ser mulher (JORDÃO, 2020). Na referida tese, as automutilações foram concebidas enquanto gestos de corpografia[2] da dor, no afã de se sentir existindo no desejo do (O)outro, bem como como o que possibilita um furo nos preceitos ideológicos e nos saberes estabilizados acerca do sujeito e suas mazelas. Para este artigo, recorto o trabalho de duas artistas com as quais que me deparei nos bastidores da escritura da tese – Gina Pane e Nazareth Pacheco, cujas obras lançam luz da grafia da dor no corpo, num jogo que mescla o estético, o poético, em que a metáfora comparece e possibilita deslizamentos de sentidos acerca do sujeito, da dor, do corpo, do feminino. Costuras possíveis que re-clamam por inscrição de si.
[1] Tese orientada pela prof. Dra. Verli Petri (UFSM).
[2] Conceito cunhado por Cristiane Dias (2016).
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