PRESIDÊNCIA ACIMA DE TUDO, ECONOMIA ACIMA DE TODOS? NOTAS SOBRE O DISCURSO PRESIDENCIAL DE BANALIZAÇÃO DAS MORTES POR COVID-19
Resumo
O acontecimento histórico e discursivo gerado pela pandemia da COVID-19 em escala global fomentou, no Brasil, duas narrativas acerca do fato: a negacionista, que minimiza a gravidade da situação e a própria letalidade do vírus; e, de outro lado, a que, junto do discurso científico, teme a proliferação. Nessa esteira de pensamentos, o atual presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, a partir de cenografia muito singular encenada em distintas cenas genéricas – a presidencial –, lidera os discursos de banalização ou naturalização das mortes por COVID-19 em função, principalmente, da importância de se manter a economia “em pé”. A partir dessa constatação, proponho-me, nestas breves notas, a observar o funcionamento desse discurso presidencial que toma a morte ora como natural, ora como histeria, mas sempre como obstáculo ao crescimento econômico. Para isso, mobilizarei o ferramental teórico da Análise do discurso de orientação francesa, sobretudo aquela preconizada por Dominique Maingueneau (2015, 2020) para proceder a análise do corpus constituído de discursos presidenciais proferidos, sobretudo, para a mídia. Além disso, mobilizo o conceito de “governo do mal” de Bauman e Donskis (2019) para justificar a falta de sensibilidade da sociedade moderna que trata a morte como uma estatística a ser, talvez, evitada.Referências
BAUMAN, Z.; DONSKIS, L. Mal líquido: vivendo num mundo sem alternativas. São Paulo: Zahar, 2019.
MAINGUENEAU, D. La philosophie comme institution discursive. Limoges: Editora Lambert-Lucas, 2015.
MAINGUENEAU, D. Variações sobre o ethos. São Paulo: Parábola, 2020.
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Publicado
2020-10-20
Edição
Seção
DOSSIÊ "DISCURSO EM TEMPOS DE PANDEMIA"