LER SEM LIVROS

Autores

  • Roger CHARTIER

Resumo

Convidado a falar de como me tornei leitor, aceitei a proposta sabendo do risco da “ilusão biográfica”. Em narrativas semelhantes de outros autores é possível observar que há duas formas recorrentes de narrativas que estruturam e fornecem o dizível a intelectuais, escritores e artistas quando são instados a falar de sua história de vida como leitores: a dos “herdeiros” e a dos leitores que nasceram em um mundo sem livros. A história dos primeiros enfatiza a precocidade da capacidade de ler, as descobertas furtivas, as leituras transgressivas e sempre opostas às leituras escolares, pesadas e chatas; a dos últimos apresenta a leitura como uma conquista em que a escola desempenha um papel fundamental, e em que a leitura dos gêneros de menor prestígio pode ser aludida. Neste texto abordo em especial o acesso aos textos sem palavras e aos gêneros de menor prestígio à época na minha infância, mas que formaram meu interesse pela leitura, como as histórias em quadrinhos, assim como relembro o meu contato com os clássicos literários por meio da tela, à época, da tela da televisão, que me fizeram, assim como a muitos, um leitor sem livros.

Referências

BOURDIEU, Pierre. L'illusion biographique. In: Actes de la Recherche en Sciences Sociales, n. 62-63, juin, 1986.

BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. Les héritiers– les étudiants et la culture. Paris: Minuit, 1964.

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Publicado

2019-12-10