O DISCURSO JORNALÍSTICO SOBRE O AUTISMO: MOVIMENTOS DO SUJEITO DENTRO, DO LADO DE FORA

Autores

  • Cynara Maria Andrade Telles

Resumo

A partir da análise de muitas vozes a falarem sobre alguns sujeitos com um posicionamento subjetivo extremamente peculiar, pretendemos neste trabalho analisar, fundamentados na teoria da Análise do Discurso, algumas vozes que, na materialidade da língua, falam sobre o autismo. Ao penetrarmos nesse campo de saber(es) (nem sendo necessário penetrarmos tanto assim) já constatamos furos e controvérsias que marcam este polêmico assunto. Podemos apontar, por exemplo, que o discurso científico num grande esforço em definir critérios que “garantam” o “enquadramento” do sujeito autista em seu diagnóstico, faz a ressalva que o mesmo só pode ser feito em termos clínicos, isto evidenciando, o atravessamento da subjetividade do sujeito “dono” de um saber científico, e a impossibilidade de, através de algo material, como um exame genético, se confirmar uma hipótese. Outro furo diz respeito às peculiaridades desses dizeres sobre os familiares dos autistas, posicionados a princípio no discurso científico como pais frios, distantes e de inteligência prodigiosa. Atualmente essas idéias são recusadas, mas ainda hoje fazem ecos nos dizeres sobre o autismo e sobre seus familiares. Portanto, apontamos para um campo discursivo, onde várias vozes do saber se colocam, tentando amarrar, criterizar, sistematizar algo da ordem do impossível de se realizar, especialmente com sujeitos que marcam sua existência pela recusa; recusa em olhar, em escutar, em tocar, em aprender, em mudar, em discursivizar, enfim, em participar do processo sócio-histórico dos homens, em se articular ao universo simbólico. É assim que as Ciências da Natureza (com universos discursivos logicamente estabilizados) reconhecem essas excêntricas criaturas.

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