A sua técnica de referências ao leitor é, com efeito, a conseqüência de uma atitude geral, que podemos definir como um contínuo esforço de aproximação da linguagem coloquial falada. O romancista sente-se escritor – é verdade – e sabe estar se dirigindo a leitores e não a pessoas que o cerquem para ouvir diretamente a narrativa da sua própria boca. Não obstante, procura aproveitar ao máximo, dentro das condições da linguagem escrita, as possibilidades que lhe ensanchariam a fala se ele fosse um contador da Idade Média, quando “toda a literatura em língua vulgar se propagava mais pelo ouvido do que pela vista[2]”. Podemos dizer assim que há em Machado de Assis uma tal ou qual tendência a reduzir uma das antinomias mais nítidas da atividade lingüística, qual é a que existe entre a linguagem oral e a linguagem escrita.