Lírica moderna e surrealismo: uma leitura dos poemas XXIII e XXIV do Canto Primeiro de Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima.
Autores
Luciano Marcos Dias CAVALCANTI
Resumo
Comumente, a figura do poeta é associada à figura do sonhador e, por conseqüência, seu trabalho artístico é considerado fruto de seus sonhos. O poema seria um produto construído de maneira espontânea, sem que o poeta precisasse, em momento algum, de racionalizar o seu pensamento para elaboração do texto poético. Sem nenhum trabalho racional ou lógico o poema nasceria do simples impulso emotivo e inconsciente. Assim, o poeta e o sonhador seriam semelhantes, pois tanto um quanto o outro são indivíduos que viveriam mergulhados na fantasia e na imaginação. É neste sentido que Curtius conceitua a poesia. Para o crítico, o exame da moderna ciência da História o levou a pensar a poesia como uma narrativa (fiction) construída pela fantasia. “Essa é uma fórmula elástica que abrange a antiga epopéia, o drama e o romance dos tempos antigos e modernos. Mas nela entra também a mitologia grega. Pois, como diz Heródoto, Homero e Hesíodo deram seus deuses aos gregos. A fantasia criadora, que engendra mitos, histórias e poemas, é função primitiva da humanidade”. (CURTIUS, 1996, p.38).