A ATUAÇÃO DO NARRADOR/PROTAGONISTA EM DOM CASMURRO
Resumo
A narração em Dom Casmurro ocorre em primeira pessoa através da voz da personagem que confere título ao livro. Dom Casmurro narra sua própria história, a história de Bentinho, o qual passa a ser Casmurro no momento em que, em sua casa do Engenho Novo, decide escrever suas reminiscências, dando origem a uma autobiografia ficcional.
O narrador de Dom Casmurro está revestido do poder e do espaço de voz dentro do texto, o que lhe confere autonomia e direito de julgamento e de crítica acerca dos fatos narrados. Este narrador encontra-se livre de um tempo cronológico e linear, sendo que lhe é permitido criar um tempo constelar, tempo em que a criação literária se faz. Se tal processo gera erros ou falsificações, estes estão dentro da lógica da ficção (BRANDÃO; OLIVEIRA, 2010).
É possível estabelecer uma relação intertextual de um fragmento de Esaú e Jacó, outro romance da autoria de Machado de Assis. Nessa obra há a afirmação de que "O tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima de invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro." (cap. XXII, p. 976). Parafraseando esse trecho, pode-se afirmar que toda a narração em Dom Casmurro encontra-se sob o jugo da memória, que é arbitrária e seletiva, em função do tempo decorrido entre os fatos e sua narração. "Toda a narrativa [de Dom Casmurro] fica marcada pelo tempo e pelo espaço da escritura (da enunciação) e pelo tempo e espaço da memória, num movimento entre o presente e o passado" (CELIDONIO, 2006, p. 119).
Referências
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BRANDÃO, R. S.; OLIVEIRA, J. M. O escritor é, antes de tudo, um leitor. Machado de Assis em linha, ano 3, nº 5, junho de 2010.
CELIDONIO, E. P. A paternidade em Dom Casmurro: ocultamentos e revelações. 2006. 216f. Tese (Doutorado em Literatura Comparada) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.
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