DE MÁS A BOAZINHAS: AS PORTAS DE SAÍDA DA PROSTITUIÇÃO
Resumo
Este trabalho tem como corpus entrevistas realizadas com garotas de programa de uma boate (Porto das Sereias)[1], situada em Cascavel, no Paraná. A coleta de dados ocorreu em 2012, com o consentimento do Comitê de Ética em Pesquisa, trabalho inscrito na Plataforma Brasil. Este artigo tem como objetivo principal verificar quais são os caminhos apontados pelas entrevistadas para deixar a prostituição e refletir sobre seus enunciados, com base na Análise de Discurso de orientação francesa.
Assim, o fio condutor desta pesquisa é a análise Pechêutiana (PÊCHEUX, 1997), viés que movimenta as análises discursivas por meio da Linguística, da Psicanálise e do Materialismo Histórico. É a partir da e na linguagem que o sujeito se constitui, dentro de um contínuo processo ideológico e, assim, é por meio da materialidade linguística que é possível observar o funcionamento da língua, indissociada da história e da ideologia: “A linguagem configura as pistas para que possamos chegar um pouco mais perto do sujeito, e a Análise do Discurso possibilita que o conhecimento constitua-se além do 'achar' de cada pesquisador e fora de qualquer modelo pré-concebido” (LAGAZZI, 1988, p. 51). Para que a análise proposta neste trabalho seja possível, interessa ao analista a materialidade discursiva, na qual se inscrevem possibilidades de reconhecimento dos efeitos de sentido presentes nos enunciados, assumindo, acima de tudo, a não transparência da linguagem. O papel do analista nesse processo é buscar perceber os efeitos de sentidos que permeiam o discurso, não se reportando a regras, “mas [à]as suas condições de produção em relação à memória, onde intervém a ideologia, o inconsciente, o esquecimento, a falha, o equívoco. O que nos interessa não são as marcas em si, mas o seu funcionamento no discurso” (ORLANDI, 2001 a, p. 64-65).[1] Porto das Sereias é um nome criado nesta pesquisa remetendo a casa noturna em que as garotas entrevistadas se prostituem. O nome original é omitido em respeito aos princípios éticos em pesquisa.
Referências
BRASIL. Código Civil 2002 — Brasília : Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2002. 342 p. — (Série fontes de referência. Legislação ; n. 43). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm> acesso em: 25/10/2012.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> acesso em: 25/10/2012.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 2: o uso dos prazeres. trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984.
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INDURSKY, Freda. Polêmica e denegação: dois funcionamentos discursivos da negação. In: Cadernos de Estudos Linguísticos, 19, jul/dez, Campinas: Editora da UNICAMP, 1990. p. 117-122.
LAGAZZI, Suzy. O desafio de dizer não. Campinas: Pontes, 1988.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP: Fontes, 3ª edição, 2001.
PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 3. ed. trad. Eni Puccinelli Orlandi. Campinas: Editora da Unicamp, 1997.
PINSKY, Carla Bassanezi. A era dos modelos rígidos. In: PINSKY, Carla Bassanezi. PEDRO, Joana Maria (org.). Nova História das mulheres. São Paulo: Contexto, 2012.
SCOTT, Ana Silvia. Honra e distinção das famílias. In: PINSKY, Carla Bassanezi. PEDRO, Joana Maria (org.). Nova História das mulheres. São Paulo: Contexto, 2012.