ESTEREÓTIPOS NA PROPAGANDA ELEITORAL: ESTUDO DE CASO

Autores

  • Luana Aparecida Matos Leal
  • Edvânia Gomes da Silva

Resumo

Este trabalho analisa as formulações linguísticas e não linguísticas que constituem a primeira propaganda eleitoral televisiva do segundo turno, do candidato à presidência da república José Serra, exibido no dia 08/10/2010 e retransmitido na tarde do dia 09/10/2010. Essa propaganda faz parte de um corpus mais amplo, o qual está sendo coletado e analisado para a pesquisa “Memória e discurso político: aspectos linguístico-discursivos da propaganda eleitoral televisiva”.[1] Por isso, essa é uma análise explanatória e visa mostrar como procedemos em relação às análises da dissertação, que será o resultado final da pesquisa.

Nesta análise, propomos mostrar como já na primeira propaganda eleitoral televisiva do segundo turno, verifica-se a constituição de imagens estereotipadas em relação aos candidatos, que se apresentam como pessoas de bem, de caráter e bem preparadas para ocupar o cargo de presidente do país. Além disso, procuramos identificar nas formulações analisadas, a presença de elementos que confirmam a hipótese de que, no funcionamento discursivo da propaganda eleitoral, a construção de estereótipos permite uma correlação dos candidatos a imagens já cristalizadas na sociedade e que estão relacionadas também ao discurso político.

Na pesquisa da qual faz parte este trabalho, estão sendo analisadas todas as propagandas eleitorais televisivas do segundo turno das eleições presidenciais 2010, veiculadas nas emissoras de televisão no período de 08 a 29 de outubro de 2010. Coletamos, portanto, todos os vídeos da propaganda eleitoral da candidata Dilma Roussef, do Partido dos Trabalhadores (PT) e todos os vídeos da propaganda do candidato José Serra, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). A escolha pela propaganda do candidato José Serra, especificamente para este trabalho se deu porque, durante a coleta de dados, tivemos acesso primeiramente à propaganda eleitoral do referido candidato, que está disponível no site do PSDB; já a decisão por trabalhar com o primeiro vídeo que foi ao ar no segundo turno se deu porque este funciona como uma espécie de programa piloto, por meio do qual todas as principais propostas do candidato são apresentadas; propostas essas que são melhor aprofundadas nos demais vídeos, exibidos durante o restante da campanha.

Na análise, foi considerado o conceito de estereótipo, definido por Amossy e Pierrot (2005) como representações ou imagens coletivas cristalizadas, esquemas culturais preexistentes ou pré-construídos, que são compartilhados. Nesse sentido, entende-se que os estereótipos são imagens previamente construídas e repassadas entre grupos, tanto positiva quanto negativamente, sempre em comparação a um modelo pré-definido.

Exploramos também a noção de pressuposto, vista aqui como estreitamente ligada à teoria da gramática, ou seja, uma ideia que, mesmo não posta explicitamente, é veiculada pelo enunciado no qual se acha inscrita. A pressuposição então é possível graças a marcas linguísticas perceptíveis pelo enunciatário no enunciado (cf. FIORIN, 2002).

Por se tratar de um trabalho que se insere no campo da Análise de Discurso Francesa, procuramos relacionar o conceito de estereótipo à noção de pré-construído, conforme sugerem Amossy e Pierrot (2005), ao citarem Michel Pechêux. Este último, ao se referir aos trabalhos de Paul Henri, define o pré-construído como “o que remete a uma construção anterior, externa, em todo caso independente, por oposição ao que é ‘construído’ pelo enunciado” (PÊCHEUX, 1975 apud AMOSSY E PIERROT, 2005, p. 112-113).

No que diz respeito ao corpus deste trabalho, entendemos que as imagens mostradas na propaganda eleitoral relacionam-se a certas imagens cristalizadas em relação à política e aos políticos. Trata-se, portanto, da imagem de alguém cujo ethos está relacionado a valores morais relativos à sua vida pessoal, além de sua competência política. Nesse sentido, procuramos mostrar que, em relação ao candidato ao qual se refere a propaganda em análise, há uma agregação de valores que fazem funcionar certa memória social.[2]Memória esta que reforça os traços positivos do candidato e, consequentemente, apaga seus traços negativos; bem como destaca os traços negativos da candidata adversária. Esse recurso mostra que a noção de estereótipo, como defendem Amossy e Pierrot (2005), não está relacionada necessariamente à ideia de algo negativo, mas a discursos que circulam na sociedade. Nessa perspectiva, tanto as imagens negativas quanto as positivas produzem estereótipos, estando os negativos ligados, muitas vezes, aos preconceitos e os positivos às questões de identificação social.

[1] Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, sob a orientação da Professora Doutora Edvania Gomes da Silva.

[2] O conceito de memória social aqui utilizado refere-se ao que Halbwachs (2006) denomina de memória exterior. Nesse sentido, podemos entender que essa memória social envolve tanto a memória individual quanto a coletiva e corresponde ao resultado de interações sociais e processos comunicacionais de uma sociedade, disponível a qualquer indivíduo, pertencente àquele determinado grupo social.

Referências

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Publicado

2015-02-24