O repertório linguístico e o pensamento decolonial como pilares da translinguagem e suas implicações no processo de ensino-aprendizagem de língua
Resumo
Enfatizando-se a natureza mutável da língua, cuja evolução ininterrupta de suas normas torna-se, para o falante, um sistema aberto, fluido e disponível para a construção de sentidos (Bakhtin; Volochínov, 2009), este artigo tem o objetivo de discutir a translinguagem, seus pilares (a decolonialidade e o repertório linguístico) e o espaço translíngue na construção do ser. Numa revisão bibliográfica de Maldonado-Torres (2000), Mignolo (2002), Quijano (2002), García (2012; 2015; 2017; 2021), Canagarajah (2011; 2013), Wei (2011; 2017; 2018), Walsh (2012), Queiroz (2020) e Rocha e Megale (2023), discute-se a translinguagem como uma filosofia que possibilita o entendimento de “práticas e experiências de linguagens de natureza complexa”, contemplando a “pluralidade linguística, semiótica, sensorial e multimodal” (Rocha; Megale, 2023). Estando a linguagem relacionada à história e à memória individual, buscamos associar as relações de poder a posicionamentos ideológicos os quais podem moldar o repertório linguístico, que constitui um importante recurso na aprendizagem de língua. Nesse sentido, numa perspectiva que diverge do monolinguismo, os aprendizes têm a oportunidade de se constituírem como seres que produzem sentidos a partir de experiências contextuais, resultantes de uma dimensão social historicamente construída, podendo isso ocorrer em sala de aula. Em conclusão, as reflexões sobre o uso do repertório linguístico em contextos de ensino-aprendizagem mostram a importância do entrelaçamento dos diversos sistemas de construção de sentido e de valorização das subjetividades, o que traz implicações políticas e práticas, desafiando velhos entendimentos e estruturas coloniais, o que promove necessária transformação social.