“O BRASIL NÃO PODE PARAR”: UM MOVIMENTO ENUNCIATIVO/DISCURSIVO QUE PODE CONTAMINAR O DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE EM TEMPOS DE PANDEMIA
Resumo
Este artigo é resultado de estudos produzidos pelo grupo Linguagem, Cultura e Direito do Núcleo Acadêmico de Pesquisa (NAP) do curso de Direito da PUC-Minas e examina questões linguísticas, enunciativas e discursivas que estão presentes na campanha do Governo Federal “O Brasil não pode parar”, lançada em março de 2020. O objetivo central é analisar linguisticamente os possíveis efeitos de sentido relativos à Pandemia da Covid-19, no que tange às evidências dos modos de dizer acerca do conflito entre Economia e Saúde, a fim de demonstrar, por meio de pistas, vestígios e marcas linguísticas, o modo como os elementos desse já-dito refletem o trabalho do sujeito com e no discurso. O referencial teórico-metodológico baseia-se nos estudos da Língua(gem) e, em especial, nas concepções de formação discursiva, sujeito empírico, sujeito do discurso, conceitos elementares da Análise do Discurso Francesa (AD) e, nos estudos psicanalíticos de formações inconscientes das identidades individuais e grupais. Notamos que efeitos de sentido atravessam os sujeitos empíricos, acionando formas de identificação com este discurso na circulação do vídeo. Essa identificação discursiva, sob a perspectiva do atravessamento do inconsciente e da ideologia, pode produzir reações de adesão e de incorporação aos enunciados contidos nesta campanha.Referências
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